José Malhoa
Nasceu nas Caldas da Rainha a 28 de Abril de 1855 e faleceu em Figueiró dos Vinhos em 26 de Outubro de 1933. Foi estudar para Lisboa aos 8 anos e aos 12 entrou na Real Academia de Belas Artes de Lisboa, onde foi discípulo de Lupi, Prieto, Vítor Bastos e Anunciação. Obtendo no fim de todos os anos o 1º prémio, conclui o curso em 75.
Concorreu a pensionista do estado no estrangeiro em 74 e 75, mas ambos os concursos foram anulados. Desiludido e decidido a não mais pintar, partiu “pincéis e paleta” e empregou-se como caixeiro na loja de confeções do irmão. Ao fim de seis meses, porém, começou a pintar A Seara Invadida (coleção particular) nos intervalos das refeições.
Apresentou este quadro numa exposição em Madrid, obtendo grande sucesso. Acusado por uma senhora que o vira em Madrid de não aproveitar o seu talento nem o mostrar em Portugal, abandonou a loja onde trabalhara três anos para se dedicar definitiva e exclusivamente à pintura.
Foi um dos fundadores do Grupo de Leão, criado em 1880. Se até então as paisagens que pintava, de gosto romântico e cores escuras, eram marcadas pelos ensinamentos de Anunciação, os quadros de ar livre dos anos 80, mais luminosos e de colorido mais intenso, demonstram que se abria à estética de Barbizon – introduzida em Portugal por Silva Porto – apesar de nunca lá ter estado.
Dentro desse espírito naturalista começava o longo percurso de exaltação da cor e da luz de Portugal, que traçou apaixonadamente, numa linguagem muito própria. Ainda nos anos 90 instalou em Figueiró dos Vinhos a sua segunda residência – o “Casulo” – onde, fascinado pela luminosidade local, realizou grande parte das cenas rurais que o celebrizaram.
Malhoa foi pintor de paisagens, cenas de género ou de costumes, retratos, nus, saltando de um género para outro sem a mínima preocupação ideológica ou de estilo. Alegre e comunicativo, criou numa visão descontraída e otimista da vida uma imensa obra que o popularizou e na qual o país encontrou identidade.
A imagem que nos deu da realidade portuguesa da época é o oposto dada pelo seu contemporâneo Columbano, intimista de cores surdas, pintor oculto das coisas e das almas. As suas paisagens são quase sempre o suporte de narrativas. Raramente pintou a paisagem pela paisagem. Uma exceção à regra é o quadro de 1918, O Outono (MNAC-MC), em que Malhoa experimentou, sem que tivesse consequências futuras, o divisionismo de tons e uma técnica pontilhista.
É dentro das cenas de género de temas rurais – costumes e tradições portuguesas, trabalho e amores do povo, festas religiosas ou pagãs … - que “pinta sorrindo e cantando, quotidianamente, de Sol a Sol” (Ramalho Ortigão) que se encontram os seus quadros mais emblemáticos, tais como: A volta da Romaria de 1901 (coleção particular); Os Bêbados, de 1907 (MNAC-MC); O Fado, de 1910 (Câmara Municipal de Lisboa); As Promessas, de 1933 (Museu de José Malhoa). Por volta dos anos 20-30, Malhoa começou a representar também a burguesia nos seus quadros de género, realizados com uma pincelada vincada, fortes manchas de luz e cores contrastantes, como por exemplo A Praia das Maçãs, de 1918 (MNAC-MC) e Hortenses, de 1923 (coleção particular).
Recebeu encomendas de composições históricas para diversos locais entre outros, para o Supremo Tribunal de Lisboa, a Câmara Municipal de Lisboa, o Palacete Lambertini, o Palácio Burnay e o Museu de Artilharia de Lisboa. Além dos retratos das gentes do povo que figuram nos quadros de género, pintou inúmeros retratos da aristocracia.
O Retrato de Laura Sauvinet (Museu de José Malhoa), uma sua aluna, realizado em 1888, foi por ele considerado a sua obra-prima. Expôs incessantemente em Portugal: na Sociedade Promotora de Belas Artes em 1880, 84 e 87, obtendo medalhas de 1ª e 2ª classe com distinção; na Exposição de Belas Artes da Associação Industrial Portuguesa, em 86 (medalha de prata); no Grupo do Leão, de 1881 a 89; na Exposição Industrial Portuguesa em 1888 (medalha de prata); no Grémio Artístico, de 1881 a 1889 (medalha de prata de 82); na SNBA, de 1901 a 1933, obtendo várias medalhas de honra (1903, 1909, 1926, 1928) e de 1ª classe (1901, 1902, 1913, 1918); no Porto, em 1882, 1894, 1900, 1908, 1912, 1916 e 1917; em Guimarães em 1910; em Coimbra em 1925; nas Caldas da Rainha em 1927 e 1929.
Realizou-se uma exposição retrospetiva da sua obra em Lisboa, em 1928, tendo-lhe então sido erigido um busto numa homenagem prestada nas Caldas da Rainha. Participou regularmente em exposições no estrangeiro: nos Salons de Paris, de 1897 a 1912, (menção honrosa em 1901); na Exposição Internacional de Berlim em 1896 (medalha de prata); na Exposição Universal de Paris de 1900 (2ª medalha); em Madrid, em 1881 e 1901 (2ª medalha em 1901); Rio de Janeiro em 1879 (medalha de prata), 1908 (medalha de honra) e, individualmente, em 1906; em Barcelona em 1910 (1ª medalha) e em 1918 (2ª medalha); na Exposição Internacional da Argentina em 1910 (1ª medalha); expôs ainda em Londres, Liverpool, S. Petersburgo, Santiago do Chile e Leipzig.
Foi presidente da Sociedade Nacional de Belas Artes desde 1918. Condecorado inúmeras vezes e distinguido com diversos títulos em Portugal e no estrangeiro, viu em vida avançar o projeto de um museu com o seu nome, que seria inaugurado seis meses após a sua morte. Morreu em Figueiró dos Vinhos a 26 de Outubro de 1933. Em 1983 realizou-se, na Sociedade Nacional de Belas Artes (Lisboa) e no Museu José Malhoa (Caldas da Rainha) uma grande retrospetiva da sua obra.
Henrique Pinto
Pintor do Naturalismo. Com Malhoa descobre o «Figueiró das Cores», com ele inicia a dita «odisseia rústica». Nascido em Cacilhas a 15 de Março de 1853. Cursou a Academia de Lisboa, onde foi discípulo de Joaquim Gregório Prieto, Tomás da Anunciação e Simões d’Almeida Júnior.
Expõe pela primeira vez na 10ª Exposição da Sociedade Promotora das Belas Artes (1874) três Paysagens tiradas da outra banda. E participa nos Concursos para Pensionista no Estrangeiro de 1874 e 1875 com os resultados conhecidos: a anulação dos mesmos. Só voltará a expor em 1880. Presente nas três últimas exposições da Promotora, recebe medalha de 3ª classe com distinção em 1884.
Pelos mesmos anos iniciam-se as Exposições de Quadros Modernos do Grupo do Leão, regulares entre 1881 e 1888/89. Henrique Pinto participa em todas elas, assiduidade só partilhada por Ribeiro Cristino, Malhoa, Silva Porto e João Vaz. No quadro de Columbano, O Grupo do Leão, 1885, lá o encontramos abancado à cabeceira da mesa, dando a direita a Malhoa e a esquerda a Vaz, os grandes amigos das jornadas «ar-livristas» e cuja relação nunca se perderá.
Participa na Exposição Industrial de 1888, medalha de cobre, com Paizagem no Alentejo e mais três quadrinhos de Portalegre.
Na década seguinte, já em Tomar, é um dos Sócios Fundadores Correspondentes do Grémio Artístico. Participa em oito das nove exposições organizadas pelo Grémio entre 1891 e 1899. A Caça dos Taralhões, pintada em Figueiró, faz sucesso logo na mostra inicial. E com Adormecido, 1891, recebe a terceira medalha na 2ª do Grémio (1892), a primeira onde são atribuídos prémios.
À Exposição Universal de Paris (1900) envia A Ceia, menção honrosa, tela desaparecida no naufrágio do regresso.
Com o virar do século, como Sócio Fundador Correspondente da Sociedade Nacional de Belas-Artes estará presente em todas as exposições até à data da sua morte. Segunda medalha na 3ª da SNBA (1903), com Dar de Comer aos que Têm Fome, 1902 - depois conhecido como O Almoço. É de novo galardoado na mostra seguinte com nova segunda medalha (1904), ano em que não são conferidos prémios mais elevados, quando apresenta As Velhas (do Café), O Pífaro Novo e Pescadores do Nabão, entre outros trabalhos.
Na Exposição Nacional no Rio de Janeiro (1908) recebe a medalha de ouro.
A par da pintura, M. Henrique Pinto abraça a vida de Professor do novo Ensino Industrial, como alguns dos seus amigos do Leão. Logo em 1884 vai para Portalegre organizar a abertura da Escola Fradesso da Silveira. Transfere-se para Tomar em 1888, ocupando durante mais de duas décadas o lugar de Director da Escola Jacôme Ratton. Com a República vai para Lisboa para a Escola Marquês de Pombal, nomeado Director, não chega a tomar posse do cargo. Morre a 26 de Setembro de 1912, ao fim de mais um verão em Figueiró dos Vinhos.
No ano seguinte, na 10ª Exposição da SNBA, perto de duas dezenas de quadros seus são de novo mostrados - «sendo destinado um lugar especial aos trabalhos do saudoso amigo» - conforme palavras sentidas de João Vaz.
LBG.
Simões d'Almeida Júnior
Escultor português, José Simões de Almeida Júnior nasceu em 1844, em Figueiró dos Vinhos. Com onze anos de idade José Simões foi trabalhar para o Arsenal da Marinha, em Lisboa e, no ano seguinte, ingressou na Escola de Belas-Artes, onde foi aluno de Assis Rodrigues e Victor Bastos.
Concluiu o curso em 1865 com elevada classificação o que lhe possibilitou obter uma bolsa de estudos para estudar no estrangeiro. Foi pensionista em França, na Escola Imperial de Belas-Artes, onde esteve até 1870, estudando com o mestre Jouffroy (1806-1882).
O seu percurso académico nesta escola foi marcado por várias distinções, de entre as quais se destacam as medalhas que ganhou em 1868 e 1869. Após a queda do III Império, em 1870, Simões de Almeida prosseguiu a sua formação em Itália, juntando-se em Roma a outro pensionista português, o escultor Soares dos Reis. Nesta cidade o artista foi aluno de Júlio Monteverdi.
Em 1872, após regressar a Portugal, Simões de Almeida foi nomeado professor interino da escola de Belas-Artes de Lisboa, assumindo a partir de 1881 o cargo de professor efetivo. Inicialmente lecionou Desenho, tornando-se posteriormente mestre de Escultura e diretor da Escola. A sua longa atividade pedagógica, marcada pelo austero academismo aprendido em França e em Roma, influenciou várias gerações de escultores.
Se os trabalhos iniciais de Simões de Almeida denunciavam um forte classicismo que marcará grande parte da sua obra, como se confirma nas suas mais famosas e apreciadas esculturas A Puberdade, de 1878, o Anjo da Vitória, colocado no Monumento dos Restauradores em Lisboa e realizado em 1886, ou o Desfolhando Malmequeres, realizada em 1877, caracterizadas pela submissão a idealizações que alinhavam pelos cânones clássicos, outras apresentavam tendências mais realistas e naturalistas, às vezes com sabor romântico.
Destas destacam-se as estátuas José Estevão, de 1886 e D. Sebastião, de 1877, um retrato recriado, dotado de grande intensidade emotiva transmitida pela atitude sonhadora da figura. Esta obra, inspirada pela incompreendida estátua coeva de Soares dos Reis O Desterrado, denuncia uma ambígua filiação que procurava sintetizar um certo revivalismo romântico com as tendências naturalistas que marcavam a produção pictórica da época.
Mais realistas são as peças Orfão, executada em Roma, ou a estátua do Duque da Terceira, colocada no Cais do Sodré, datada de 1877.
Em alguns dos bustos e retratos que realizou, como o do Duque de Ávila ou o de Luz Soriano, Simões de Almeida desenvolveu uma plasticidade e um valor lumínico mais ricos, possibilitados pelo menor peso do gosto idealista e classicista dos seus trabalhos públicos.
Para além das temáticas historicistas e monumentais, Simões de Almeida realizou alguma escultura de carácter religioso, como o Cristo Cruxificado da capela tumular de Alexandre Herculano no Mosteiro dos Jerónimos.
Simões de Almeida morreu a 13 de dezembro de 1926.
Simões d'Almeida (sobrinho)
Natural de Figueiró dos Vinhos onde nasceu a 17 de Junho de 1880, foi filho de Joaquim Simões de Almeida. Faleceu em Lisboa em 1950.
Em 26 de Outubro 1893 com a idade de 13 anos matriculou-se Curso Geral de Desenho da EBAL. No curso de Desenho foi discípulo do seu tio José Simões de Almeida Júnior, do escultor Alberto Nunes e do arquiteto José Luís Monteiro.
Concluídos os seus estudos em Desenho, foi admitido em 5 Outubro 1897 no curso especial de Escultura Estatuária, onde recebeu lições do seu tio, José Simões de Almeida Júnior.
No ano letivo de 1897-1898 foi-lhe adjudicado uma medalha de prata pelas classificações obtidas nas suas provas de frequência e passagem; no ano seguinte outra medalha de prata e um prémio pecuniário no valor de 30$000 réis, distinções que voltaria a arrecadar no ano lectivo de 1900-1901. Terminados os seus estudos em Escultura, concorreu no ano de 1904 ao lugar de bolseiro por conta do Legado Valmor, na especialidade de Escultura, lugar para o qual ficou apurado (nomeado por despacho de 4 de Maio de 1904). Chegou a Paris no dia 7 de Junho de 1904.
Em 1905 remeteu para Portugal uma prova do seu pensionato - um baixo-relevo representando As filhas do Mondego chorando a morte de Inês de Castro - exposta na EBAL no ano de 1906 entre outras obras realizadas no âmbito do seu pensionato.
Em Paris, onde permaneceu até ao ano de 1907, recebeu lições de Verlét e Jean-Paul Laurens. No ano de 1915, juntamente com António da Costa Mota (Tio), concorreu ao lugar de Professor de Escultura da EBAL, de onde saiu vencedor, tratando deste modo de substituir o seu tio, Simões de Almeida Júnior.
Na Escultura evidenciou-se como medalhista, sendo de destacar o seu molde para a moeda do escudo aprovada em 1911. Foi também escultor de monumentos e outras obras de carácter oficial e comemorativo, tanto em Portugal, como no estrangeiro. A este propósito, refira-se o busto da República ou o monumento em Lourenço Marques (Maputo) de Mouzinho de Albuquerque.